Fonte O Globo
Professora, que também está infectada por Covid-19 e passou seis dias internada, acompanhou enterro por videoconferência
09/05/2020
RIO - A professora Glória Fátima Nascimento, de 58 anos, diretora do Colégio Teresiano, na Gávea, na Zona Sul do Rio, não conseguiu acompanhar nesta sexta-feira o enterro do pai, que não resistiu ao coronavírus. A filha tinha acabado de deixar o hospital após oito dias de internação enfrentando os sintomas da Covid-19. O sofrimento dela será ainda maior neste domingo, quando terá que acompanhar o sepultamento da mãe, vítima da mesma doença. Ela não terá nem mesmo o apoio da irmã, que continua numa unidade de saúde privada.
— Não tem racionalidade que dê conta. É um sentimento de pequenez, de percepção de como somos pequenos no universo e não dominamos nada. A vida é muito maior do que a gente imagina e dá muito mais dores do que imaginamos — disse Glória.
Num dia de extrema dor, a professora contou com a solidariedade de amigos, que transmitiram-lhe imagens do enterro do pai, Boanerges do Nascimento, de 88 anos, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Até amanhã, ela espera ter forças para se levantar e ir ao mesmo cemitério, onde será sepultada a mãe. O corpo de Maria José do Nascimento, de 88 anos, ficará numa gaveta acima de onde está seu marido, com quem ficou casada 64 anos.
A irmã dela, Conceição Aparecida, de 63 anos, não sabe da perda dos pais. Glória conta que os idosos moravam no Recreio e respeitavam a quarentena. No último dia 23, a mãe teve diarreia e apresentou um pouco de confusão mental. Ela foi levada para um hospital privado, na Barra da Tijuca, onde foi internada. Na manhã seguinte, o pai foi para a mesma unidade com falta de ar. Com o diagnóstico de Covid-19, os dois ficaram isolados.
— Os médicos ligavam sempre e um grupo de amigos médicos também nos ajudou. Eu faço parte de uma parcela de privilegiados que têm acesso ao um bom atendimento médico, não posso dizer que foi por falta de cuidado profissionais — elogia ela.
Irmã está internada
Dias depois, Glória e a irmã, que moram juntas, descobriram que estavam infectadas e foram internadas no outro hospital privada, na Barra. Mesmo internada, ela acompanhava os pais. Mas Boanerges morreu na última quarta-feira — a mãe sequer soube. Ela foi vencida pela doença no dia seguinte.
— Ela não soube dele. Foi tudo muito rápido, e ela estava no oxigênio e sedada. Ele foi se despedindo aos poucos. Meu pai era uma pessoa muito espiritualizada, foi a chama de uma vela se apagando aos poucos. Foram 64 anos de casamento. Eram muito amigos, não escondiam nada um outro. Tinha muita amizade envolvida — contou a professora.
A opção da diretora foi por preservar a irmã das notícias tristes. Conceição teve um problema de falta de oxigenação, o que prolonga sua internação. Mas Glória diz que ela terá alta na semana que vem.
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